Resultados do Estudo Brasileiro

O ESTUDO

O projeto de pesquisa testou um total de 400 crianças — de 6 a 8 anos — cursando escolas públicas e particulares de São Paulo e Salvador. Nós entrevistamos os pais destas crianças visando completar questionários contendo informações sobre o seu Nível Sócio Econômico (NSE) e o grau de estimulação cognitiva em seus lares. Cada criança foi testada por um assistente de pesquisa devidamente treinado para aplicar uma bateria de testes cognitivos que exploraram habilidades cristalizadas (vocabulário e compreensão da linguagem), e diferentes áreas da inteligência fluida (memória, atenção, raciocínio indutivo). Além disso, os professores das crianças testadas completaram questionários individuais provendo informações sobre o progresso acadêmico de cada uma delas.

PRINCIPAIS DESCOBERTAS

Descobrimos que crianças criadas em condições desprivilegiadas (baixo NSE) têm um desempenho muito pior nas medidas de habilidade cristalizada (vocabulário, compreensão da linguagem e desempenho acadêmico), quando comparadas a crianças crescendo em um ambiente mais favorável (alto NSE). As crianças de baixo NSE apresentaram também um pior desempenho – novamente comparado ao desempenho das crianças de alto NSE – nos testes de inteligência fluida (memória, atenção, raciocínio indutivo). Portanto, o estudo mostra de forma clara que crescer em ambientes de menor NSE constitui um sério fator de risco para o desenvolvimento cognitivo da criança.

POR QUE ESSAS DESCOBERTAS SÃO IMPORTANTES?

A inteligência humana pode ser dividida em dois tipos de inteligência (Cattell, 1987, Horn, 1965) – a inteligência cristalizada (conhecimento) e a inteligência fluida (raciocínio). A inteligência cristalizada se baseia em habilidades adquiridas, aprendizado passado, e experiência. A inteligência fluida, por outro lado, refere-se à capacidade de relacionar idéias complexas, formar conceitos abstratos e resolver novos problemas. Acreditava-se que a inteligência cristalizada era produto de experiências educacionais e culturais e, a inteligência fluida era fixa desde o nascimento e relativamente independente de fatores ambientais. O nosso estudo contesta essa posição mostrando que o NSE não só afeta as habilidades cristalizadas, mas também a inteligência fluida. Em outras palavras, NSE pode afetar o potencial de aprender – a habilidade geral da criança entender e formar novos conhecimentos.

Nossas descobertas são plausíveis, pois sabemos que a parte do cérebro que é responsável pela inteligência fluida muda bastante durante a infância e é muito sensível às influências do ambiente. Assim como um músculo, o cérebro necessita de “exercícios” para trabalhar bem. Desse modo, o cérebro precisa ser exposto a certos estímulos, caso queira funcionar de maneira ótima. Por conseguinte, o estudo sugere que condições ambientais podem afetar o desenvolvimento cerebral de áreas responsáveis pela inteligência humana. Portanto, a situação de pobreza pode não só criar obstáculos sociais, mas também obstáculos biológicos. Essas descobertas podem apoiar a hipótese neurológica de que, tanto na escola quanto na vida futura, crianças vivendo em ambientes empobrecidos possam vir a apresentar um desempenho consideravelmente menor do que crianças vivendo em ambientes de classe média alta.

POR QUE ESSAS DESCOBERTAS SÃO IMPORTANTES PARA PAIS, PROFISSIONAIS DA EDUCAÇÃO, GOVERNANTES E A ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA?

Nós acreditamos que a estimulação no ambiente é um dos fatores chave que conectam o NSE à inteligência. Crianças sendo criadas em condições socioeconômicas desprivilegiadas têm maiores chances de sofrer com índices reduzidos de estimulação cognitiva em casa, o que afetará o desenvolvimento de ambas as inteligências – fluidas e cristalizadas. Tal cenário poderá impactar no seu desempenho escolar e conseqüentemente no seu sucesso na vida adulta.

É muitíssimo importante que pais e escolas ofereçam aos seus filhos/alunos um ambiente cognitivo estimulante, para que assim eles possam ter um desenvolvimento intelectual otimizado. Esse ponto é particularmente importante para crianças provindas de famílias de baixo NSE e freqüentando escolas públicas. Nós acreditamos que as autoridades de políticas públicas devem atentar para o fato de que a qualidade do ambiente escolar e a estimulação cognitiva nas salas de aula não só são importantes para transmitir conhecimentos, mas igualmente para melhorar a inteligência geral das crianças.

A inteligência geral é um elemento chave para o sucesso acadêmico e melhorias profissionais. Nós estamos convencidos de que para ser alcançada uma significativa redução na desigualdade social no Brasil, são necessárias mudanças drásticas nas políticas publicas, promovendo assim para cada criança brasileira a oportunidade de gozar de um desenvolvimento cognitivo e cerebral de excelência.